Naquela época o meu pai sustentava nossa família profissionalmente como pintor de paredes, digo "profissionalmente"pelo fato de não se tratar de um pintor qualquer, por ser um artífice, empiricamente um químico ou um mago na composição das tintas e suas cores. Ele era um pessoa que amava o seu ofício. Para mim ele se tornava mais interessante quando manipulava e compunha as cores na minha presença. Para mim tudo aquilo era uma aula, e somente eu, privilegiado por ser o único aluno.
Pigmentos em tubos de alumínio, tinta a óleo, esmalte brilhante, alvaiade, cal, gesso, óleo de linhaça, querosene, aguarrás, água, rolo de lã, pincel, trincha, estopa, lixa, escada...Esses foram os objetos e materiais que marcariam por toda vida a minha lida na pintura. A tinta fresca e seu cheiro de arte. A tinta seca anunciando a conclusão de uma parede emassada e pintada com sucesso. Nascia então a minha paixão pelas cores projetadas em paredes com suas texturas, luzes e sombras, embora longe das formas geométricas, figurativas e abstratas.
O despertar artístico
Em Montes Claros, meados dos anos de 1970 visitei uma exposição coletiva na praça Honorato Alves em frente ao Automóvel Clube daquela cidade com os artistas mais expressivos da região: Godofredo Guedes, Wanderlino Arruda, Larama, Gê Soares e outros. Vi muita obra feita com esmero e qualidade, e confesso que saí de lá decidido em pintar telas como aqueles pintores.
Quando, como e onde pintar?
Havia na cidade o estúdio de pinturas LARAMA, lá se pintava de tudo um pouco: placas, faixas, letreiros, telas etc. Foi quando eu vislumbrei uma chance de aprender algo. Então me ofereci e comprometi a trabalhar como aprendiz sem ônus algum, onde me dediquei por um ano.
Aprendi a manusear pincéis, preparar suportes para placas de chapas de aço, confeccionar faixas de pano e cartazes, compor cores e entender a especificidade das tintas.
Conheci a psicologia das cores, a diagramação dos textos sobre quaisquer superfícies, criação de logomarcas, reprodução de ilustrações etc. A pintura de propaganda era o que sustentava aquele estúdio. Porém, enquanto Larama pintava em cavalete, eu ficava observando atentamente a sua técnica, a composição do tema, as cores, luzes e sombras. Ele reproduzia com fidelidade o mundo real em suas telas, embora sendo um pintor introspeccionista. Eu ficava observando atentamente a preparação da tinta e sua consistência, os pincéis etc. Paralelamente eu praticava pintura em casa, inventando algumas paisagens, copiando texturas da natureza e demais matérias ou pintando algo de memória sobre suporte em eucatex.
Eu selecionava as melhores telas para serem expostas na feira coletiva de arte e artesanato da cidade, chegando a vender algumas por um valor irrisório.
As ilustrações
A minhas primeiras ilustrações foram feitas para o Jornal de Montes Claros, onde a minha estreia como ilustrador de textos foi um sucesso. Ilustrei poemas de autores significantes do cenário literário desta cidade.
1980 - Eu e Belo Horizonte
A década de 1980 foi de estrema importância para mim, pois, registra a minha procura obcecada por informações sobre arte. A minha curiosidade em aprender me fez mergulhar nesse universo sem data para emergir, e Belo Horizonte foi o solo fértil para a minha evolução artística. Entendi que eu teria que aprender fazendo e vivenciando de maneira passional e ininterrupta.
Eu, por ser autodidata, a indisciplina me trouxe a liberdade de experimentar materiais que me dessem a resposta plástica nas minhas propostas de arte. Para mim é muito comum sentir e ver arte em tudo, impossível viver sem pensar em arte.
O tempo urgia empurrando a minha maioridade para o mundo da arte, no entanto, eu aceitava o desafio fazendo de tudo um pouco em arte. Porém, tive a alternativa das oportunidades que escolhi para me instruir naquela década onde o país vivia um clima ainda sombrio pela ditadura. A Geração 80 seguia produzindo e revolucionando, enquanto eu engatinhava na mesma direção.
Arte, trabalho e estudo
1980 - SENAC - Cartazista letrista
1981 - SENAC - Curso de Desenhista de Propaganda
1982 - SENAC - Curso de Impressor de Serigrafia
1982 - SENAI - Oficina de Artes Gráficas - Fotolito e Impressão Off-Set
1985 - Escola Guignard - Curso Livre: modelo vivo e desenho de observação
Em 1988 - Centro Cultural do Liceu de Artes e Ofícios, SP
Análise de Obra de Arte - História da Arte Contemporânea
1989 - Universidade de Mogi das Cruzes, SP
Desenho da figura humana (modelo vivo)
1991- SENAC - Layout
1994 - Universidade Federal de Minas Gerais - CECOR
Introdução conservação e Restauração de Pinturas
1995 - INAP Instituto de Arte e Projeto - Computação Gráfica/Publicidade
1997 - IEPHA/MG - Curso de Bens Culturais/Bens Móveis - Imaginária e Alfaia
Participações
1991- Menção Honrosa - IV Concurso de Pintura - Prefeitura Municipal de Itaquaquecetuba - Secretaria de Cultura, SP
1991 - V Encontro dos Pesquisadores do Barroco Mineiro - Revista Barroco - Sabará, MG
2010 - Universidade Federal de Minas Gerais - Mestres Artífices - Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - IPHAN
2014 - Seminário "Aleijadinho e o Barroco" - Sabará, MG
2014 - Honra ao Mérito - Bicentenário de Antônio Francisco Lisboa - Prefeitura Municipal de Sabará, MG
A conquista do espaço
E assim se foram décadas de aprendizagem, vivência e experimentações no meu mundo autodidata, onde o limite de criação não existia. Todos esses cursos auxiliaram bastante no meu crescimento profissional, na minha evolução como cidadão e como ser humano. E para ser reconhecido e respeitado como artista tive que mostrar o meu talento trabalhando bastante e usando a criatividade como suporte para a minha sobrevivência com a arte.
A minha carteira profissional é o registro fiel de todas as atividades artísticas, as quais me comprometi e dediquei em expressar o melhor de mim no competitivo mercado de trabalho. E com isso venho até o presente momento conquistando o meu espaço e tecendo a minha história nas artes plásticas.
Sobrevivência com arte
A pintura foi a minha introdução para as artes visuais, um portal, uma senha para o encontro mágico e uma aliança com Deus. Fiz da minha arte a minha religião. Fiz dos pincéis, das cores e das tintas uma extensão de mim.
Foco &Unidade
Durante essas décadas procurei focar em atividades que manteriam a unidade nas artes visuais, isto é, que não distanciasse da minha proposta e projeto de vida.
-Trabalhando com a empresa do meu pai adquiri a experiência como pintor de parede.
Pintor Letrista
-No Studio Larama aprendi a pintar letras em placas, faixas, paredes e outros suportes. E como pintor letrista trabalhei contratado pelas empresas: Almec Peugeot Fábrica de Bicicletas - Montes Claros, MG - A. Gordon Luminosos - Belo Horizonte, MG - Construtora Mendes Júnior, SP - Empresa Pássaro Marrom - SP
Desenhista
- Como desenhista, ilustração, past up e layout trabalhei contratado e também free lancer: Jornal de Montes Claros, MG - A. Gordon Luminosos - Belo Horizonte, MG, - Gráfica Siracusa - Belo Horizonte, MG - Guiatel - Belo Horizonte, MG - Imprensa Oficial/Suplemento Literário do Estado de Minas Gerais - Revista AMAE educando - Jornal O Pasquim - Folha de Sabará, MG
Restaurador
Prefeitura Municipal de Sabará, MG
Construtora Coscarelli - Belo Horizonte, MG
Grupo Oficina de Restauro - Belo Horizonte, MG
Grupo Restauro - Belo Horizonte, MG
IEPHA- Santa Bárbara, MG
Artes Plásticas
A minha primeira exposição foi coletiva, realizada na Feira Municipal de Arte e Artesanato na praça Dr. Chaves, juntamente com outros artistas como: Godofredo Guedes, Hélio Guedes, Wanderlino Arruda, Gê Soares e outros.
As minhas telas não eram emolduradas, pois, eu não tinha recursos para a compra de molduras. O tema das minhas telas eram as paisagens do norte de Minas com sua vegetação de serrado. Sempre achei interessante e sedutora aquela paisagem rica em detalhes com sua fauna e flora peculiares, aquele sol inclemente naquele céu de brigadeiro de todos os dias, e de um crepúsculo capaz de inspirar qualquer impressionista. Esse tema foi bastante explorado pelos pintores montes-clarenses, devido ao rápido retorno comercial. Porém, a minha paixão pelo bucolismo regional durou-se pouco.
O figurativismo passou a me dar respostas das minhas mensagens e das minhas intenções, isto é, traduzia com veemência e realismo a minha linguagem plástica. No entanto, o surrealismo veio amalgamar com as minhas metáforas naquele contexto de ditadura, onde a patrulha ideológica abortava toda arte que não fosse manipulável. Embora no anonimato eu me sentia como um desses artistas perseguidos e exilados nos tempos de chumbo.
Telas produzidas em minha fase panfletária
1- Serventia da Casa 2- Inflação 3- Latifúndio 4- Ordem e Progresso |
Mostras de Arte - Individuais
1989 - Capítulo I das dispersões - Teatro Pascoal Carlos Magno, Mogi das Cruzes, SP
1990 - Capítulo II das dispersões - Teatro Pascoal Carlos Magno, Mogi das Cruzes, SP
- Aliança Francesa, Mogi das Cruzes, SP
1991 - Mensagens Ecológicas - Teatro Pascoal Carlos Magno, Mogi das Cruzes, SP
- Diário de Mogi das Cruzes, SP
- Banco do Brasil, Mogi das Cruzes, SP
1992 - Dedicatórias - Teatro Municipal, MG
1993 - Intervenção"Esfinge" a palmeira - Praça Melo Viana - Sabará, MG
1993 - Myrciaria Cauliflora - Bar-Oco, Espaço Cultural, Sabará, MG
1994 - Menu "A fome comendo a fome"- Museu do Ouro, Sabará, MG
Exposições Coletivas
1978 - Coletiva de pinturas - Feira Municipal de Arte e Artesanato - Montes Claros, MG
1989 - Coletiva de Artes Plásticas - Colégio São Marcos - Mogi das Cruzes, SP
1990 - II coletiva de Artes Plásticas - Hotel Binder - Mogi das Cruzes, MG
Coletiva de Artes Plásticas da Caixa Econômica Federal de Santa Isabel, SP
Coletiva de Artes "Galeria CHAMA" - Mogi das Cruzes, SP
1991 - Coletiva de Arte - Oficina Cultural de Itaquera "Alfredo Volpi", SP
Exposição Coletiva ASAP - Teatro Municipal - Sabará, MG
1993 - Coletiva de Artes - "Estandartes" praça Santa Rita - Sabará, MG
-Minas Centro - Belo Horizonte, MG
- Centro Turístico - São Paulo, SP
- Praça Central do Minas Shopping - Belo Horizonte, MG
Mostra Coletiva ASAP - Casa Borba Gato - IBPC- Sabará, MG
Mostra Coletiva ASAP - Teatro Municipal - Sabará, MG
II Festival de Cultura e Tradições Mineiras - Sabará, MG
Mostra Coletiva de Pintura de Vanguarda - Bar-Oco espaço cultural - Sabará, MG
1994 - Mostra Coletiva "I CULT-PUC" Festival de Cultura e Comunicação da PUC/MG - Belo Horizonte
Coletiva de Artes - XVIII Feira da Paz - Minas Centro - Belo Horizonte, MG
Coletiva ASAP - Inauguração da sede própria - Oficina e Galeria "José Augusto de Paula Rocha" - Sabará, MG
Recortes de reportagens, entrevistas, convites de vernissage e certificados sobre Sérgio Pacheco
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