Este projeto surgiu na véspera do aniversário de 100 anos de Belo Horizonte, minha cidade natal.
Em 1998, eu fazia parte de uma equipe de restauradores da pintura trompe l'oeil existente no hall de entrada da antiga Secretaria da Fazenda, situada no entorno da Praça da Liberdade. Então me veio a inspiração em contestar sobre centenas de obras como essa, que foi degradada, corrompida debaixo de repinturas, ignorando e anulando todo um registro do melhor que já existiu em pintura parietal nos primeiros anos da criação da capital mineira. Esta foi a minha maneira de homenageá-la, onde mostro a minha indignação quanto a perda do seu patrimônio artístico, por capricho ou ignorância. Nesses 100 anos muita arte foi feita, porém, muitas também sucumbiram em tão puco tempo.
A minha contestação limitou-se em exaltar o belo projeto de jardinagem da Praça da Liberdade, suas flores, árvores e arbustos, alameda com palmeiras imperiais, as réplicas das esculturas neo-clássicas, suas aves, transeuntes, pássaros, e aquele lugar que transcende tranquilidade e muita paz.
Traduzi as cores da praça, numa paleta e numa leitura que aproximasse ao entendimento de todos. Para realizar esse evento, pedi autorização à empresa MBR, responsável pela manutenção da praça. Ao meio dia, justamente o horário do meu almoço. Depois de almoçar às pressas, eu disponibilizava de alguns magros minutos para a realização do atelier ao ar livre na praça.
Eu disponibilizava de alguns cavaletes, pincéis e tinta, para quem quisesse interagir, compartilhar pintando comigo. A imprensa local registrou este projeto, que teve a duração de aproximadamente um mês.
Esta série foi criada para a ilustração da minha crônica intitulada "A lenda do pequi. Onde eu coloco o negro como protagonista da história, quebrando a hegemonia indígena nas lendas brasileiras.
Portanto, as ilustrações "O nascimento do pequi", procuro enfatizar o amarelo intenso do fruto protegida por sua casca espessa com sua cor verde folha.
O pequi é um fruto oriundo do cerrado brasileiro. Aqui, nesta obra, ele ganha uma conotação surreal, como se fosse um feto em sua placenta, seguido das suas fases embrionárias.
Nestas três obras usei argumentos fauvista e cubista, para um breve estudo sobre cor e forma.
A tinta acrílica me favoreceu muito nessa minha procura, e eu consegui o meu objetivo, pois gostei do resultado plástico. Enfim, são pinturas de gênero, com uma técnica que eu pretendia dar continuidade, criando uma série para explorar uma linguagem, onde o realismo pudesse ser visto numa versão bastante inteligível nas figuras geométricas . A primeira tela tela trata-se de uma marinha, a segunda, uma melancia fatiada, a terceira, outra paisagem com girassóis vermelhos, ambas pintadas em 1988.
Santíssima Mulher: é a tradução espiritual da autodefesa feminina, de maneira plasticamente simbólica. Esta pintura se baseia em fatos reais, banalmente relatados nas páginas policiais, nos noticiários de TV, em redes sociais, quanto a violência à mulher: física, moral ou psicológica. Aqui, ela não é tratada como o "sexo frágil" , e sim, a fêmea com toda sua característica adulta, exibindo o dom da perpetuação da sua espécie em comunhão com a pureza das águas e a fusão com todo o universo natural que a envolve.
A cabeça e o colo em flores, feito escudos ornamentais do corpo e mente.Enfim, uma mulher sem rosto representando todas as demais. É a mulher divindade em sua plenitude, protegida pela mãe natureza ou Gaia.
Esta abordagem cubista partiu da sedução a este estilo observando várias garrafas em meu atelier. Me vi tentado em pintá-las, porém num figurativo diferente, onde eu pudesse abusar das cores que me vinham à mente. Estou registrando esta obra, por ter sido a primeira vez em que o cubismo ditou toda a composição triangular, a simetria de forma e cor, enfim, o equilíbrio de ambos. A impressão que tenho delas, é que parecem pessoas expectadoras!